07/01/2010

Sobre um menino singular

Primeiro dia de muitos outros menos iguais. Nada pode se comparar àquele santo dia. Foi nesse dia que muitas especulações foram feitas acerca de um novo mundo. Foi nesse dia que muitas pessoas começaram a viver. Esse dia marcou o fim de uma velha e o início de uma nova vida para todos que por lá passaram. Ao se lembrar, suas mãos gelam, seu estômago parece aprisionar centenas de borboletas de 9 meses doidas pra sair do casulo que lhes serviu de casa o inverno inteiro. Parece que ela viveu toda sua vida e todas as estradas e caminhadas a conduziram a este lugar e o seu destino estava predestinado desde o princípio para que fosse feliz como foi. Mas não vim até aqui falar desse dia exclusivamente, nem dela, principalmente. Começo este meu intento afirmando que isso aqui se trata de uma lembrança, de um grande amigo que ela teve e ainda tem.

Sensações infinitas, rostos infinitos. Um menino com cara de anjo, e cabelos também, se destaca. Mas que coisa... que coisa estranha. Não, não foram os seus cabelos, mas certamente a sua estranha sensação de já tê-lo conhecido. Depois de muito observar chegou à conclusão de que não lhe era tão familiar assim. Uma possível paquera... humm, isso! Uma possível paquera... não! Não no primeiro dia de aula... Contenha-se!, logo pensou.
E continuou a viver cada resiração e a observar cada pessoa ao seu redor.
Muitas respirações passaram, e dias também, e o menino passou a se sentar na sua frente. Estudavam nas mesmas classes, técnico e médio. Bem, tentativas de conversa, de brincadeiras foram sendo feitas, eu mesma pude observar. Ele não cedia. Era um menino difícil aquele do cabelinho de anjo.
Ela queria ser sua amiga, desejava mesmo saber o que se passava dentro de sua cabeça. Ele era tão misterioso, tão quieto, tão intrigante. Era quase um desafio fazê-lo sorrir. Ninguém encenaria tão bem a sua arte de existir. Era mais que um desafio fazê-lo virar para trás.
Ninguém, nenhuma de suas amigas lhe deram ouvidos quando ela dizia que um dia ele seria tão bonito, tão grande e forte e másculo, não que não fosse, mas ela achava que ele tinha um brilhante futuro quando fosse homem feito. Bem, não deram ouvidos. Ela nunca deixou de acreditar.
Quando ele podia se virar para trás sozinho, sem que para isso fosse necessário um grande empenho da parte dela, as nuvens começaram a ir embora, sua teia começou a ser desfeita e os boatos de que o muro de berlim cairia em breve começaram a surgir.
Vou lhes dizer uma coisa, mas que fique entre nós: sim, ele passou a ser uma paquerinha... Mas passou, que ousadia querer uma coisa dessas se ele ao menos dizia qual era sua cor preferida, se ela ao menos sabia qual era essa cor!
E bem, para encurtar a história, pois passou-se muito tempo sem que se tivesse mais algum ganho do tipo ficar sabendo qual é a música, a comida, o filme preferido e outras coisas das quais serviriam de munição para mais alguma conversa e etc, aos poucos, mas bem poucos, ele foi se permitindo conversar por si só, foi mostrando o verdadeiro cara que existia ali dentro, por debaixo dos cachinhos, que as vezes ficavam carecas, as vezes dentro de um boné azul.
Tudo o que conseguiu dele foi descobrir que era mesmo um cara com grande potencial, dono de um coração de melancia, bem grande, facinho de ser cortado por dentro, mas que por fora tem uma casca verde e dura, seu meio de proteção, seu colete à prova de balas.
Tudo o que conseguiu descobrir dele foi que, sendo assim, ele conseguia trazer para perto de si somente quem fosse persistente e que, realmente, valia a pena, quanto às outras pessoas, um grande "tô nem aí" para elas. É bem certo que passaram por sua vida algumas pessoas que não mereciam seu coração e a sua atenção, mas como seres humanos, as pessoas se enganam, erram e precisam quebrar a cara. Ele passou por maus bocados e ela não tem certeza se ele ainda passa por mais alguns.
Tudo o que aprendeu com ele foi que devagar também se chega lá, depois de comer algumas vezes no mesmo restaurante que ele, depois de vê-lo chegar nas segundas ou primeiras aulas um pouco atrasado, com seus chinelos havaianas, seus dedinhos tortos, cabelo molhado, tranquilo, sossegado, apreciando a beleza de cada momento.
Tudo o que pode dizer dele não cabe nessas linhas e tudo o que ela quis que eu escrevesse sobre tudo o que ela conseguiu descobrir e sobre tudo o que ela aprendeu não é tudo. Tem muito mais, ela sabe de muito mais, ela viveu, riu, chorou com ele. Dele, guarda muitas lembranças. Dele vai se lembrar por muitos e muitos anos. Acho até que não vai se esquecer nunca. Promete que vai levá-lo pra andar de Fusca verde azeitona assim que comprar o seu.
Hoje, se ela tivesse feito alguma aposta com suas amigas naquela época sobre o futuro dele, teria ganhado. Ele virou paquerinha de muita gente, chegou perto do másculo e forte, ainda vai ficar no ponto, se é que o público feminino entende, e do jeito que está, não vai ficar dando sopa por muito tempo. E quanto ao filme preferido, a cor e a música, se alguém quiser saber, passe no teste! O problema é que o teste é duplo, ela diz que tem que aprovar também! :)

Um comentário:

  1. Nati! Adorei esse texto! Não sei se essas pessoas existem, mas juro que gostaria de descobrir quem são! Porque provavelmente estavam na minha sala, por três anos, e meu Deus, será que eu não percebi nada??!!!
    Ahh... deu saudade daquele primeiro dia! =S

    beeijos nati!!

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