01/12/2012

Fechada a cortina, vazio o salão

 Eu que já não queria mais, levei a vida devagar tentando me precaver dos piores. Sendo a vida louca e breve, quase caí porque parei... Me lembro de ter dito alguma vez que ouvi no filme que a vida é como andar de bicicleta, se parar cai. Pois bem, grande erro esse meu: eu parei. Sorte foi que não cheguei a cair, mas foi por pouco, veja bem. Encostei a bicicleta na sacada do apartamento (ela ainda está lá, imóvel e empoeirada), me acomodei e acreditei que era só um tempo, que as chances deveriam ser dadas para mim, para todos eles, e mais especificamente para ele. Por que eu ia descer três lances de escada todos os dias carregando a bicicleta, se eu podia ir andando devagar, devagarinho, sem pressa de chegar? Grande erro! Não quero mais parar, nem ser contida, muito menos perder velocidade. A exemplo de Forrest Gump estou indo correr, ainda que aos olhos dos outros aparentemente eu possa não ter motivos para correr assim, correr de quê? correr pra quê? eles dirão, mas dane-se a crítica, afinal de contas, quem são eles? Quem precisa deles? Somente quando eu achei que precisava de alguém foi que me perdi. Quero correr até sumir o que se passa aqui dentro ou até eu achar que está bom e confesso que recuperei os meus critérios de outrora. A mim não interessa mais seus dons artísticos, seu bom vocabulário e sua boa educação quando precisa de mim. Quero correr até que meus propósitos voltem a se fixar na minha cabecinha idiota e no meu coração que, definitivamente, não é de papel. Eu irei achar o tom e fazer com que fique bom outra vez o meu cantar. E não tem essa de "e a gente vai ser feliz...", porque já me esgotei da mesma nota, o show perdeu a razão.
 Se tu me cativas, nós teremos a necessidade um do outro, se do contrário isso não ocorre, o que posso eu fazer? Os homens esqueceram a verdade, e não deveriam se esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
 De ontem em diante, serei o que sou no instante agora. Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa. Me atiro do alto e me atire no peito, teu choro já não toca meu bandolim e a tua voz sufoca meu violão. Foi você quem quis assim (reflita...). Se ser sozinho, pra você é sinônimo de ser feliz, aposto o oposto: é impossível ser feliz sozinho! 
 Sem piedade, ainda me crucifico por ter sido, mais uma vez, boba (lê-se: carente) de acreditar que seria diferente, mas sou assim, nunca quis um só pedaço, sempre quis a fruta inteira. "Ora, que culpa tenho eu de ser assim?", diz meu lado racional, enquanto o lado emocional, o mandante, o traficante do meu morro, continua a se crucificar... pois bem, que seja assim, o show tem que continuar. Da luta não me retiro! Afrouxaram-se as cordas, mas não posso mais desafinar, não quero cair...


Agradecimentos ao Teatro Mágico, Fundo de Quintal, Tom Jobim, Pequeno Príncipe, Los Hermanos, final de semestre na faculdade e ao meu coração sensível (até demais) que me possibilitaram escrever mais um texto baseado em fatos reais. 


01/08/2012

Era uma vez no Maranhão


Por dez dias vivenciei, sob a minha ótica e o meu conforto, uma realidade que não é a minha, mas que me afetou. Vi muitos dormindo nas calçadas, mal abrigados e descobertos, largados e esquecidos. Quando amanhecia, os que pareciam moribundos ganhavam vida e de alguma forma, misturavam e camuflavam-se com os demais, que desde as sete da manhã estavam a postos lutando pelo pão deles. Os garis limpavam a sujeira que podiam das ruas nessas noites. Os mais sujos eram os policiais, que salvaguardavam o centro histórico à sua maneira... honestamente, não vi utilidade em tê-los ou não ali.
            Mal amanhecia e o sol no céu queimava a pele dos desprotegidos, despreparados e sem mãe: os turistas - aqueles que passam repelentes, protetor solar fator 60 e tentam ilusoriamente estar preparados a todas adversidades.
            Os nativos, de pele morena, alguns vestindo carrancas no lugar habitual dos seus rostos, armados e xenofóbicos... Outros, simpaticíssimos, gentis e de sorriso largo, prontos para ajudar ou dar um bom dia efusivo, contrastando e dando vida aos dias quentes e aos ônibus e ruas lotadas.
            Em Raposa, um povoado vizinho de mulheres rendeiras e homens trabalhadores do mangue, estão abertos à visitação e encantam com sua simplicidade e com suas palafitas sofisticadas que comercializam Coca-Cola, ainda que mal tenham água encanada.
            O sossego das pessoas se assemelha ao de suas tão famosas dunas e lençóis. O reggae que ecoa nas esquinas, misturado ao som de um forró mais que animado, é o que movimenta o povo nas baladas. Tenho pra mim que se não fosse a sua música, eles não seriam os mesmos.
            Foi por essas que outras que eu percebi, ao contrário do que a mídia vende, que não são somente os sabores como o do cupuaçu, cajá, bacuri e do famoso Guaraná Jesus, a disposição dos azulejos e arquitetura das velhas casas quem dão o gingado e a malemolência típica de São Luis do Maranhão. Adiciona-se também os contrastes e percepções de fatos reais, vividos por mim e por outros que desconheço, nesta cidade muito longe, muito longe daqui, que tem problemas que parecem os problemas daqui
            E para os que desconhecem qualquer fato a respeito, estar no Maranhão é arte, suar faz parte.


03/06/2012

Sou um transdutor

 Engraçado como, em certas horas, a gente aprende a atuar como se fosse uma atriz de cinema ganhadora de um oscar de melhor interpretação, disfarçando com classe a tristeza real que sente ao rever alguém que um dia foi muito especial na sua vida, lembrando que poderia ter sido e não foi, nem nunca será. Cheguei até a imaginar efeitos especiais quando da minha despedida, como se o mundo parasse, como se o meu sorriso fosse penetrante, como se breves segundos de um cumprimento gentil pudessem marcar toda uma vida... todos esses efeitos devido ao fato de que poderia ter sido e não foi e nem nunca será.

E são efeitos especiais, tão especiais que não existem na vida real. Tendo sido afetada por um realismo tão grande que até os sentidos me aparecem sem suas cores, e se há cores, estas são insossas, não vejo o porquê de sonhar... Vendo em preto e branco a vida passar creio que é assim que deve ser praqueles que se cansaram de acreditar em futuros prósperos, recheados de conquistas, valores, alegrias...

Acho engraçado mesmo essas horas que a gente perde a noção de realidade e essa tem sido uma das poucas graças obtidas por mim mesma. É tão idiota isso de se imaginar vivendo uma realidade inventada, que nunca foi nem nunca será. E é engraçado por ter todo o seu foco invadido por uma abstração que quando passa e perde a validade você se olha e sente vergonha por ter elevado à enésima potência as probabilidades reais de algo acontecer, desafiando as leis da física e da matemática pura e ri sozinho...

Ouvi há pouco o que o músico cantou. Era algo mais ou menos assim: hoje aqui, amanhã não sabe... vivo agora antes que o dia acabe. Realismo puro! Se eu dormir vou correr o risco de sonhar... e sonho que se sonha só é só sonho. Não quero mais isso pra mim...

04/03/2012

Palavras, palavras apenas, palavras pequenas...

Tem quem prefira os beijos às palavras. Eu particularmente sempre preferi as palavras, que poucas vezes me faltaram. Os beijos, estes têm sido bastante superficiais em vida, em sonho, em passado e na previsão de um futuro não planejado. Palavras me fogem da cabeça, me vêm à boca quando querem, me fodem a vida quando mal escritas, me tornam mal compreendida, mas recheiam o conteúdo dos que as proferem ao invés do Pensamento, que se esconde nos covardes e morrem com eles, junto com as suas vontades. De palavra em palavra se compreende uma frase, um pedido, uma ordem, uma indireta... Com as palavras se consegue ir além. Atinjo meus alvos fazendo uso delas, machuco-me ao ouvi-las, preciso delas para me acalmar. Aqueles que fazem mau uso delas corre o risco de depender da compreensão, benevolência e caráter de outrem para ser absolvido sobre aquilo que foi cuspido intencionalmente. E uma vez dito, complicado se redimir, não há meios de retirar ou fazer esquecer aquilo que os ouvidos ouviram e na mente já penetrou. 

 

12/02/2012

SHOC,

É difícil viver longe de quem se ama.
Falta o abraço não dado nos momentos em que se necessita dar, o calor do abraço não recebido, o afago das mãos, o beijo, o colo acolhedor, o bom dia com cara de sono, o fazer nada juntos, o rir da vida, o caminhar despojado e sem intenções de chegar a algum lugar, a correria e a parceria, o amor em todos os seus sentidos e suas formas de expressão, o ombro que acalenta o choro, o filme na terça-feira, a pipoca na quinta, o coçar na sexta-a-noite, o cinema no domingo de manhã, o sorriso amarelo pós coca-cola... em suma, falta o dia-a-dia.

É injusto ter o hoje com os seus méritos e amanhã perdê-los devido ao acaso do destino.
É injusto ter que saber lidar com o novo sem ter nascido sabendo como fazer.
É injusto ter que ser forte quando a distância deixa lacunas pela estrada.
É injusto ter que tolerar que se perde aquilo que se gosta porque a distância não sabe brincar de ser legal.

A distância parece injusta, mas ao mesmo tempo, sabe o que faz. Se não fosse a distância entre o sol e a lua, esta não brilharia refletindo a luz emitida pelo sol e não seria tão bonita aos olhos de quem a vê.
A distância dá saudade e oportunidade aos amantes sentirem falta um do outro, fazendo os encontros sempre valerem a pena.

Que esta dor, causada pela saudade, causada pelo desejo de estar junto, causado pela distância, causada pelos caminhos escolhidos, causados pela sorte de cada um, causada pelo dia em que te conheci, me amadureça e fortaleça, para que eu consiga te reencontrar, quando possível, sabendo lidar com o fato de te amar e não poder estar contigo da forma como queríamos que fosse.
   
"De que vale um pingo d'água no meio da corrente? De que vale amor bonito, ai meu deus do céu, longe do olho da gente?" diz, em meus ouvidos, a ladainha da capoeira que um dia com arrepios de emoção ouvi numa roda.