14/04/2013

Carne suína e cisticercose: qual o verdadeiro risco?

Em meio aos meus estudos de Zootecnia de Suínos, me deparo com a seguinte questão: "Carne suína e cisticercose: qual o verdadeiro risco?".
Cursando o quarto ano de Medicina Veterinária, tenho total condição de responder a essa questão de forma adequada para quem quiser ouvir. Estou até cansada de ter visto tanto assunto referente a esta questão ao longo de muitas disciplinas até agora. No entanto, parei para pensar e achei justo compartilhar o meu conhecimento.
Os brasileiros, de maneira geral, dos mais esclarecidos aos leigos, têm um preconceito muito forte com a carne suína e digo o porquê: eles associam o suíno ao animal de antigamente, o porcão gordo que era criado na lama, alimentado com restos de comida (lavagem). Esses animais eram produzidos com o propósito de produzir banha e sua genética lhe dava essas condições, tendo baixo rendimento de carcaça e muita deposição de gordura. Porém, todo esse cenário e toda essa genética mudou. Quando você vai ao supermercado e compra carne suína, ela, na imensa maioria das vezes, tem o carimbo do Serviço de Inspeção Federal, o que assegura que aquele pedaço de carne passou por inspeção cuidadosa e segura, por profissionais competentes e treinados, em um frigorífico legal, com abate humanitário. Agora, eu não quero que me julguem mentirosa e quero deixar claro que abates clandestinos estão aí para serem fiscalizados, mas isso é ooooutra questão...
Os suínos de hoje, foram selecionados para terem um bom rendimento de carcaça, isto significa, de forma simplória, que é desejável que eles apresentem mais carne que gordura em seu corpo. Além disso, eles apresentam melhores conformações, ou seja, apresentam formas mais harmoniosas, que permitem o seu desenvolvimento adequado, sem prejuízos ao animal durante a produção das partes do seu corpo de maior interesse econômico. A alimentação dos animais, é balanceada e diferenciada de acordo com as diversas fases de desenvolvimento, de forma que eles sejam bem nutridos e todas as suas exigências nutricionais sejam atendidas. A forma como são criados na suinocultura industrial difere do suíno criado na lama, no sistema de subsistência (que ainda é expressivo em algumas regiões do Brasil).
A teníase é uma doença que pode acometer suínos, bovinos, ovinos e o homem. Ocorre quando ingere-se carne crua ou mal passada onde há larvas de Taenia. Os animais, sendo hospedeiros intermediários, apresentam a larva desse verme em seus tecidos e o homem, hospedeiro definitivo, apresenta a fase adulta do verme em seu intestino e libera os seus ovos no ambiente, através das fezes.
A cisticercose é uma doença que pode acometer suínos, bovinos, ovinos e o homem. Ocorre quando ingere-se frutas, verduras ou água contaminada com ovos de Taenia (que o homem libera através de suas fezes).
O suíno, em produção intensiva, não ingere carne crua ou mal passada onde poderia haver larvas de Taenia.
O suíno, em produção intensiva, não ingere frutas, verduras e muito menos água contaminada com fezes humanas, onde poderia haver ovos de Taenia.
O suíno, em hipótese alguma, em produção intensiva, causa cisticercose no homem. O homem causa a cisticercose no suíno. O suíno não é a fonte de transmissão, apenas participa do ciclo da doença que lhe é transmitida, mais uma vez, pelo homem. O suíno abriga a fase larvar da Taenia apenas quando ingere carne crua ou mal passada onde há larvas de Taenia (o que não ocorre na produção industrial).
Portanto, o homem adquire a cisticercose ao ingerir frutas, verduras ou água contaminada com fezes de pessoas portadoras de Taenia, ou seja, com teníase. E o homem adquirirá a Taenia ao ingerir carne mal cozida de bovinos, suínos e ovinos que tenham cisticercose. Em nenhuma hipótese o homem terá cisticercose ao ingerir a carne suína oriunda de um sistema intensivo que passou por Inspeção Federal (e daí a importância de saber a procedência da sua carne, a importância de se comprar carne em estabelecimento adequado, onde só vendam carnes com o selo do S.I.F.).
Saliento ainda que essas doenças, a teníase e cisticercose, ainda ocorrem no país, porém, há que se ter o cuidado de só adquirir carnes de estabelecimentos de boa procedência que vendam carnes inspecionadas. Essas doenças são associadas a locais onde condições higiênico-sanitárias não são atendidas, falta saneamento básico e noções de higiene são precárias. Não precisamos adentrar muito o interior do Brasil para ter esse tipo de realidade, periferias de grandes centros urbanos estão carentes dessas condições básicas, só que o poder público não chega até lá (talvez precisem de carros melhores para enfrentar os buracos dos asfaltos ou as ruas de terra desniveladas)...

O risco: consumir carne suína de procedência duvidosa. Na dúvida, não consuma.
O suíno: não tem culpa nessa história.

Parafraseando um trecho da minha aula, "Enquanto o consumidor pensa no "porco" o produtor já produz o "suíno"".

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