10/05/2010

Um livro sem final, um livro sem final (8)

- Alô? Éée... você pode vir aqui na minha casa?
- Poosso. Maaas... .... por quê?
- Ahh, é que preciso falar com você.

É aqui, dessa ligação, que tudo mais ou menos começa, pelo menos a reta final que levou ao início de tudo. Menos de 5 minutos e lá estava ele, ofegante, com cara de preocupado e ao mesmo tempo curioso. Ela abriu o portão, meio sem jeito, e perguntou se ele queria entrar e quem sabe tomar uma xícara de café. No final das contas foram até um simpático trailler que vendia o cachorro quente sem purê mais gostoso da cidade de Limoeira. Um número seis completo sem salsicha com ovo, por favor. Ele a observava e de certo supunha milhares de coisas que ela poderia querer dizer a ele, ao mesmo tempo em que ela bolava a melhor forma de dizer a ele o que tanto precisava. Eram sentimentos confusos, difusos, inesperados. Não existia uma melhor forma de dizer algo que nem ela, a dona da questão, sabia muito bem. Situação tensa.

Enrolando-o por algumas horinhas, correu o tempo do lanche ficar pronto, esfriar e quase entrar em processo de decomposição. Após o chove-não molha, ela tomou a coragem suficiente para parar de falar besteira e coisas sem sentido, foi direto ao assunto dizendo a ele palavras que alavancaram a situação para um estágio muito, muuuito mais, complicado.

No linguajar popular eu diria que ela abriu o jogo, mandou a real, deu a idéia, jogou o verde querendo colher o maduro. Ele esboçou reações. Reações mais inesperadas que todo aquele sentimento vindo dela: suou frio, tremeu, os seus lábios secaram, a voz quase sumiu. Enquanto isso borboletas voavam alvoroçadamente no estômago de ambos. Se a bomba já tinha sido jogada na turbina do avião o que fizeram depois disso? Bem, não houve melhora na manifestação fisiológica dele: continuou a suar tremer horrores lábios rachados rouco. Nela, a sensação de alívio lhe caía otimamente bem.

Nesse dia que eu não consigo me lembrar precisamente a data, talvez o mês... junho? sei lá, só sei que foi em 2008, duas vidas, a dele e a dela, se cruzaram depois de: 1) uma ligação inusitada, 2) uma conversa estranha permeada de risadas, piadas sem graça e assuntos aleatórios, 3) uma revelação e finalmente 4) um doce primeiro beijo.

Essas vidas permanecem unidas dentro do coração deles até hoje, os caminhos é que foram pra lugares diferentes. Um caminho dobrou a esquerda, lá em Lugar Nenhum, e o outro caminho foi pra Ilha Rá-Tim-Bum. De vez em quando uma vida volta para perto da outra, seguindo o rastro de pão que deixou para marcar a trilha.

Eu, que escrevo e participo dessa história, só desejo que em outro dia, que poderá ser tão emocionante e cheio de surpresa quanto aquele que contei agora pouco nessas linhas, esse rastro de pão não seja comido por passarinhos famintos e que um novo caminho não leve a vida dele pra longe da dela.

Um comentário:

  1. ah, Nate, que lindo!
    Amei o conto, mesmo, me prendeu, deixou curiosa, me senti com borboletas no estomago tb!

    Bjus,
    saudades

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