Este texto foi escrito em 1869 pelo russo Mikhail Bakunin, um dos principais teóricos do socialismo libertário (ou anarquismo). Os anarquistas entendem que a educação é um fator de libertação das classes oprimidas, por isso o autor defende que a instrução deve ser igual para todos, independentemente da condição social.
"A primeira questão que vamos hoje considerar é esta: Poderá a emancipação das massas operárias ser completa, enquanto a instrução que as massas recebem for inferior àquela que é dada aos burgueses, ou enquanto houver uma classe qualquer em geral, numerosa ou não, mas que, pelo seu nascimento, seja chamada aos privilégios duma educação superior e duma instrução mais completa? Pôr esta questão, não é resolvê-la? Não será evidente que entre dois homens, dotados duma inteligencia natural aproximadamente igual, aquele que souber mais, cujo espírito estiver mais aberto para a ciência, e que, tendo compreendido melhor o encadeamento dos fatos naturais e sociais, ou aquilo a que se chama leis da natureza e da sociedade, se aperceberá mais fácil e globalmente do caráter do meio em que vive, - que este se sentirá, digamos, mais livre, que será praticamente mais hábil e mais poderoso do que o outro? Aquele que sabe mais dominará naturalmente aquele que sabe menos; e se existir entre duas classes apenas esta diferença de educação e de instrução, esta diferença produzirá em pouco tempo todas as outras, o mundo humado voltará ao seu estado atual, isto é, será dividido de novo numa massa de escravos e num pequeno número de dominadores, os primeiros trabalhando, como hoje, para os segundos.
Compreende-se agora por que é que os socialistas burgueses pedem apenas alguma intrução para o povo, um pouco mais do que tem atualmente, e nós, democratas-socialistas, exigimos para o povo a instrução integral, toda a instrução, tão completa quanto o permite a capacidade intelectual do século, a fim de que, acima das massas, não possa existir nenhuma classe que saiba mais do que eles, que os possa dominar e explorar. Os socialistas burgueses pretendem manter as classes, devendo cada uma delas, segundo eles, desempenhar uma diferente função social, uma por exemplo, a ciência e a outra o trabalho manual; e nós, pelo contrário, queremos a abolição definitiva das classes, a unificação da sociedade, e a igualização econômica e social de todos os seres humanos que habitam a terra. Eles queriam, conservando-as, minorar, adocicar e embelezar a desigualdade e a injustiça, as bases históricas da sociedade atual, e nós queremos destruí-las. Donde resulta obviamente a impossibilidade de qualquer entendimento, conciliação ou mesmo coligação entre nós e os socialistas burgueses"
(O socialismo libertário. São Paulo: Global. p. 32-3.)
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