29/06/2011

Foi a cor dos olhos

Da minha janela eu podia ver claramente a luz entrar, eu podia ver ciscos de poeira que voavam a esmo. As definições sobre tudo me cabiam e me satisfaziam perfeitamente. Eu podia ter, da minha cama, os melhores sonhos e dos meus pensamentos, as maiores vontades. Da minha vida eu podia tomar o rumo que quisesse, podia escolher como seria o meu dia. Dos meus impulsos eu podia ser qualquer coisa e podia me pintar no papel que escolhesse. Mas isso foi antes. E logo eu que jurei por Deus não morrer por amor...



17/06/2011

Filosofia e Bem-Estar Animal

Desde antes de Cristo filósofos questionavam assuntos que despertavam interesse ou impactavam a vida. Aristóteles, filósofo da Antiguidade, exerceu influencia no pensamento, ação de seus contemporâneos e de pessoas da atualidade. Acreditava que animais estariam a serviço do homem para uso-fruto sendo, desprovidos de razão, fato que os distinguiria dos humanos.
Atualmente, a teoria Produtivista, cuja base filosófica vem das ideias de René Descartes, afirma que os humanos são os únicos membros da comunidade moral, sendo espécie pensante que possui o direito sobre o modo de vida dos animais. Muitos sistemas produtivos os subjugam em busca de lucro, sendo o sofrimento animal justificado pelo aumento da produtividade.
Apesar de não sermos filósofos não estamos desautorizados a comentar sobre “ética” na produção animal. A sociedade civil organizada e movimentos sociais trouxeram preocupações éticas com a produção animal. Estas preocupações foram acompanhadas por reflexões e trabalhos de diversos filósofos como Ruth Harrison, Willian Russel, Rex Burch, Peter Singer, Tom Regan, que apresentaram questões humanitárias e filosóficas, tomando ora posição moderada frente aos debates ora aliando-se a movimentos radicais.
Filósofos contemporâneos sentiram necessidade de novas reflexões acerca da abordagem do Bem-Estar no tocante à produção, experimentação e direitos animais. Ruth Harrison deu inicio a discussões sobre Bem-Estar Animal através do lançamento de seu livro, Animal Machines, onde denunciou maus tratos que os animais eram submetidos na criação confinada. A publicação impactou a comunidade européia chegando ao Parlamento Britânico que criou o comitê Brambell para analisar a situação. Isto abriu caminho para outros manifestarem-se sobre o assunto conturbado. Tom Regan, Stephen Clark e Bernard Rollin, passaram adiante a idéia de que animais têm direitos. Comitês e Conselhos de Bem-Estar foram criados como o FAWAC (Farm Animal Welfare Advisory Council), que posteriormente passou a ser FAWC (Farm Animal Welfare Committee) existindo atualmente e considerando que animais mantidos pelos homens devem estar protegidos de sofrimento e baseia suas considerações em 5 liberdades. Peter Singer e Tom Regan escreveram Animal rights and human obligations (1981) também impactando a nível global as considerações sobre Bem-Estar. A partir dessas novas visões e manifestações, criaram-se relatórios apresentando Códigos de Boas Práticas e Manejo. Tom Regan lançou outro livro, In defense of animal rights (2001), mostrando que o debate continua. Grupos, ONGs, conservacionistas, vegetarianos, protecionistas ou defensores da liberdade animal influenciam a ciência e prática de ações relacionadas ao Bem-Estar Animal baseados no pensamento dos filósofos do passado e contemporâneos.


Este foi outro texto enviado para mais uma tarefa da WSPA.

08/06/2011

Senciência Animal

Eis um texto feito por mim e por Emília Davanzo para uma tarefa da WSPA (Sociedade Mundial de Proteção Animal). Quem quiser saber mais sobre a sociedade, dá uma olhadinha no site: http://www.wspabrasil.org/. Vale muito a pena!

A senciência é um conceito intrinsecamente ligado aos humanos, e uma série de questionamentos surge quando o mesmo é estendido aos animais. Senciência significa ter capacidade de vivenciar sentimentos e emoções, poder sentir dor e sofrer, mas o oposto também é verdadeiro – o animal senciente também tem a capacidade de sentir prazer. Não sabemos em que ponto na escala evolutiva reside a linha limítrofe entre a presença e a ausência de senciência, porém, trabalhos científicos reúnem motivos e experiências que buscam sua comprovação.
Tem-se ainda muito ceticismo no meio científico e profissional em relação à senciência animal, mas se os animais são considerados então simples máquinas, como sugere a teoria do filósofo Descartes, como a semelhança com a inteligência humana, exibida por eles, pode ser explicada? Em estudos sobre preferências ambientais (Dawkins, 1980) galinhas puderam escolher entre viver em gaiolas ou livremente. As acostumadas a viver soltas, preferiram permanecer livres, já aquelas acostumadas a viver em gaiolas, em um primeiro momento preferiram-na, embora posteriormente escolheram a vida livre. Deste modo, a escolha é fortemente influenciada pela experiência anterior. Deve-se notar que o fato de as galinhas preferirem viver fora de uma gaiola não é indicativo de sofrimento, mas sim de que elas possuem a capacidade de escolha.
Evidências sobre senciência animal foram testadas em diversos experimentos. Pode-se citar como exemplo os trabalhos realizados por Marian Dawkins, ligados à galinhas, que através de uma série de experimentos mostrou que as aves desenvolviam habilidades para encontrar alimentos disfarçados no ambiente, demonstrando capacidades cognitivas nesses animais. Existem também trabalhos como os realizados por Yue com trutas arco-íris, onde as mesmas eram mantidas em um tanque dividido em duas câmaras. Uma luz era acesa em uma câmara, onde receberia um estímulo ameaçador, como uma rede, e para evitá-lo, a truta deveria nadar até a outra câmara do tanque. Todas as trutas aprenderam em um período de 5 dias a responder à luz nadando para o outro tanque, demonstrando não só a senciência do animal através da capacidade de sentir medo como também a capacidade de memória dos mesmos, demonstrando um desenvolvimento cognitivo semelhante aos dos mamíferos. Esse trabalho tem não apenas a importância de provar a senciência animal e com isso ser ponto de apoio para justificativas sobre o cuidado com o bem estar animal como também estende esse conceito aos peixes, animais comumente taxados de desprovidos de emoções.

Referências:

DAWKINS, M. Perceptual changes in chicks: Another look at the ‘search image’ concept. Department of Zoology, University of Oxford UK. Received 4 December 1970; revised 19 March 1971.

S Yue, R.D Moccia, I.J.H Duncan. Investigating fear in domestic rainbow trout, Oncorhynchus mykiss, using an avoidance learning task. Received 12 March 2003; received in revised form 3 September 2003; accepted 21 January 2004.

http://www.labea.ufpr.br/publicacoes/pdf/P%E1ginas%20Iniciais%202%20Senci%EAncia.pdf

http://www.afac.ab.ca/current/sentience/05mar.htm

http://www.oie.int/doc/ged/D2044.PDF

http://animalbehaviour.net/JudithKBlackshaw/Chapter3f.htm

01/06/2011

O tempo voa mais do que a canção

Ela não chorou quando o espinho da flor cruel que ela amou a machucou. A dor se arrastou por muito tempo, mas mesmo assim, nada de choro. Até que, ainda sensibilizada pela mesma dor, ela leu em algum lugar "Chora, Tistu, chora. É preciso. As pessoas grandes não querem chorar, e fazem mal, porque as lágrimas gelam dentro delas, e o coração fica duro." e então desatou a chorar, como nunca antes havia chorado. A citação foi o estopim, a razão que ela precisava para se libertar. E ela que se julgou forte, foi fraca quando muitas lágrimas vieram. Na calada da noite essas lágrimas, claras e salgadas e inquilinas da dor, vieram... E ainda que irmãs do desespero, elas a fizeram repensar em seus erros e a fizeram enxergar que a flor não era cruel, mas o seu espinho é quem lhe cravou uma marca profunda no peito, que já está cicatrizada e de lá não sairá mais.
Não precisou de meio dia para se sentir mais leve, foi instantâneo. E sentiu outra vez um vazio estranho, mas dessa vez era diferente. Não era fome. Comer não parecia tão importante. Estando ali, sozinha, de repente o seu pensamento focalizou alguém. E o seu coração apertou, mas não a deixou triste, pelo contrário, até deixou escapar um sorriso. Sentia-se alimentada por outra coisa. Dormiu e acordou com os mesmos pensamentos e estes a impulsionaram a ter um grande dia...
Quando o viu suas palavras saíram embaralhadas e suas mãos suaram. Então sua cabeça pensou direito, pode recuperar suas faculdades mentais por um momento, mas pouco depois perdeu-se novamente em sentimentos bons e confusos.

As borboletas que se confundem com dor de estômago voltaram. Mas agora não é mais dor, são elas mesmas. "Há quanto tempo, velhas amigas!! Não querem entrar e tomar uma xícara de café?" ela as convidou e prometeu que não vai mais tentar contê-las, pois já é hora de aceitar que os ventos mudam de direção e dessa vez, o vento as trouxe pra ficar e é bobagem lutar contra isso.